Costumamos imaginar que o Japão está vivendo no futuro, onde tudo é super tecnológico, e que estamos a anos-luz do patamar em que eles se encontram. Fui ver pessoalmente, com mais calma, para analisar a situação atual.
Fiquei três meses, a maior parte do tempo entre as cidades de Tóquio e Osaka. Tive momentos como uma nômade digital que precisa de um mínimo de rotina para trabalhar: frequentando o supermercado, comprando produtos do dia a dia como arroz, carne, sabão etc., usando máquina de lavar, transporte público… Enfim, coisas de uma vida comum, de quem realmente mora ali. Claro que o modo “turista” logo aparece nos finais de semana, com aquela sede infinita de viver como se não houvesse o amanhã.
Pois bem, com isso tive a oportunidade de observar detalhes que, numa viagem turística comum, não haveria tempo nem faria sentido notar. E então descobri que há mais de dez tipos de cortador de unha (!); que os produtos que aparecem no TikTok nem são tão consumidos pelos japoneses; que há uma borracha com espessuras diferentes em cada ponta; que vendem arroz não perecível que fica pronto em três minutos no micro-ondas… e por aí vai.
Analisando o mercado de forma geral, a resposta para a pergunta do título é: não. O que melhor define o mercado japonês é:
Tem muito de tudo!
Há uma enorme variedade de produtos, mas eles nem sempre diferem tanto do que estamos acostumados. Estão lá as marcas globais, como o cereal da Kellogg’s, a Coca-Cola, o hidratante da Nivea… e também muitas outras locais. Diversos produtos são sim diferentes, mas apenas diferentes, não necessariamente mais inovadores.
O que talvez traga a imagem mais futurista sejam os trens-bala. Mas há trens igualmente rápidos e confortáveis em outras partes do mundo. Exceto a privada master blaster, que limpa seu furico com diferentes níveis de jato, ângulo, temperatura e ainda toca musiquinha… o restante são produtos habituais, porém bem feitos, de melhor qualidade, com alguns detalhes mais bem pensados. E muitas variações sobre o mesmo tema, como os dez tipos de cortador de unha. Afinal, estamos falando de um país que, mesmo sendo relativamente pequeno, abriga a cidade mais populosa do mundo.
Para contrastar, a presença da tradição é muito forte. Os arranha-céus dividem espaço com templos nas grandes cidades. Há muitos produtos com estética de séculos atrás. Porque um estilo não precisa sobrepor o outro, há espaço para todos.
Outro ponto: o que funciona bem permanece como está por décadas. Tive a oportunidade de visitar o Japão há 10 e 20 anos atrás, e muitas coisas não mudaram NADA. Há vários trens antigos, mas que funcionam perfeitamente bem: rápidos, climatizados com bancos aquecidos. Programas de TV parecem ter parado nos anos 1990. Os chuveiros são IGUAIS aos de 20 anos atrás.
Portanto, o Japão tem sim aspectos bastante tecnológicos, que convivem com elementos antigos e tradicionais. No geral, isso não o define como um país futurista, e sim como um país que tem muito de tudo.